Dilma: não fui eleita para trair a confiança do povo
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Nada resume melhor o tom dos discursos proferidos na convenção do PT que ratificou a candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição, em Brasília, do que o jingle de campanha “Dilma, coração valente”, apresentado durante o evento.
Exaltando a coragem da mulher que enfrentou à ditadura, se elegeu a primeira presidenta do país, transformou para melhora vida de milhões de brasileiros e não se vergou às pressões das forças conservadoras que torcem pelo fracasso do Brasil, o xote conquistou os petistas.
No Congresso Nacional do PT, não havia militância paga e muito menos “candidatos de papelão” com quem os partidários pudessem fazer um “selfie”. Era gente de carne e osso que ora concordava e ora discordava das decisões partidárias.
Por isso, uma vaia ameaçou deslanchar quando o presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi anunciado. E palavras de ordem bem mais contundentes eclodiram quando o presidente do partido, Rui Falcão, ressaltou a necessidade do governo combater o monopólio da mídia:
“O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” e “Mídia, classista e sensacionalista”, manifestaram os presentes. “Nós queremos apenas cumprir o que diz a Constituição Federal”, afirmou Falcão. “Infelizmente, 25 anos após a Constituição, uma única emissora controla 40% da TV aberta e quase 70% das verbas publicitárias”, justificou.
No mais, a militância recebeu com muita animação e carinho os candidatos petistas aos governos dos estados e até mesmo o pemedebista Michel Temer, que segue novamente como candidato à vice da coligação Mais Brasil. “O povo brasileiro conhece seu governo e o do ex-presidente Lula. Sabe o quanto foi feito pelo país”, disse ele à Dilma.
Avaliações divergentes
O presidente do PT manteve o diagnóstico alarmista para a campanha. “Já se tornou lugar comum dizer que está será a mais dura, a mais difícil de todas as eleições. E os fatos mostram que sim”, afirmou, citando a nova ofensiva conservadora contra o projeto petista que transformou o país nos últimos 12 anos.
“Enfrentamos nestes quase doze anos um ataque feroz dos que desejam o retorno ao passado. E, agora, a ofensiva aumentou. Juntaram-se, em bloco, a direita de sempre, hostil e truculenta; os neoliberais da herança maldita; setores do grande capital especulativo, que preferem a renda à produção dos empresários que ajudam o país e, no papel de porta-voz, o oligopólio da mídia, que golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar”, atacou.
Mas o presidente de honra, Luiz Inácio Lula da Silva, adotou outra tática. “Muitos já disseram isso, eu mesmo já disse isso, mas nós precisamos mudar o discurso”, conclamou para, em seguida, atestar: “Nós não precisamos ter nenhum medo das eleições de 2014”.
Segundo Lula, a chave para a vitória está na comparação entre os projetos que os diferentes lados têm para o país. “Cada militante do PT precisa saber de cor e salteado tudo o que foi feito neste país. Eu não tenho medo e comparar nada com eles. Nada”, ressaltou.
Já no início do seu discurso, ele comemorou o fato de que a relação entre ele e Dilma permanecer sólida, apesar da grande torcida contrária. E se comprometeu a acumular mais um recorde para partido. “Nós vamos provar que é plenamente possível o criador e a criatura viverem bem e em harmonia”, ironizou.
Copa no Brasil
O sucesso da Copa do Mundo no Brasil, em contraste com os xingamentos dirigidos à presidenta pela “elite branca”, na abertura do mundial, no Itaquerão, também foram combustíveis para os discursos.
O presidente do PT criticou duramente o fato da oposição tentar tirar proveito disso. “Os xingamentos, diante de chefes de Estados, de crianças e de famílias, deveriam envergonhar quem os proferiu. Infelizmente, tiveram guarida entre adversários, que sonharam tirar proveito eleitoral da falta de educação de uma certa elite. Solidários à turba, comemoraram: ‘Dilma está sitiada, Dilma plantou o que colheu’. O tiro saiu pela culatra. Nossa presidenta foi cercada, sim, pela solidariedade unânime dos que condenam a violência, a vilania, as proclamações de ódio”, avaliou.
Já Lula, destacou que o ocorrido o fez decidir redobrar os esforços para reeleger Dilma. “Não é da cultura da esquerda e nem do povo trabalhador brasileiro xingar as pessoas”, disparou, demarcando bem de onde as críticas partiram.
O ex-presidente pediu para a organização soltar no telão o vídeo viral na internet em que uma catadora de reciclados de Minas Gerais defende a realização da Copa no Brasil e fala que educação se aprende em casa.
Pegando o gancho na avaliação da legítima representante do povo, Lula afirmou que o comportamento das pessoas que xingaram Dilma não é uma questão menor, porque a escola ensina uma gama de conhecimentos, mas não tudo.
E enalteceu a hospitalidade com que os brasileiros estão recebendo os turistas que vieram para o mundial. “Pobre sabe que quando alguém vem à casa da gente, a gente tem que tratar com respeito”, completou.
Novo ciclo de Dilma
No seu discurso, a presidenta fez jus ao mote expresso no jingle. Agradeceu o voto de confiança do partido, relembrou as conquistas acumuladas nos últimos quatro anos e prometeu um novo ciclo de desenvolvimento, caso seja reeleita, baseado nas reformas política, federativa, urbana e de serviços públicos, além de outros mecanismos capazes de produzir revoluções educacional, tecnológica e digital.
“Temos, agora, uma oportunidade rara na história: defender os grandes resultados de um ciclo fabuloso e, ao mesmo tempo, ter força para anunciar o nascimento de um novo ciclo de desenvolvimento”, afirmou.
Mas, também, deixou claro que não irá levar desaforo para casa e, haja o que houver, manterá a cabeça erguida. “Eu não tenho rancor de ninguém. Mas também não vou baixar minha cabeça. Não insulto, mas não me dobro. E também não venham com qualquer outro artifício, porque também não assusto. Não agrido, mas também não fico de joelhos para ninguém”, ressaltou.
Ovacionada pela militância, ela confessou que, nos vários momentos de dificuldades e pressões que passou desde que foi eleita, sempre repetiu o mesmo mantra para si mesma. “Eu não fui eleita para trair a confiança do povo. Eu não fui eleita para arrochar o salário do trabalhador. Eu não fui eleita para vender patrimônio público, como outros fizeram. Eu não fui eleita para mendigar dinheiro do FMI, porque não preciso. Essa não é minha receita. Eu fui eleita para governar de pé e com a cabeça erguida”, afirmou.
A presidenta também reforçou que, se em 2002 a esperança venceu o medo, em 2014 a verdade vencerá a mentira, a desinformação e o ódio: “Mesmo quando tentaram me destruir física e emocionalmente por meio do uso de violências, eu continuei amando o meu país e nunca guardei ódio de ninguém, porque quem se deixa prender no ódio, faz o jogo do adversário”
E conclamou a militância a fazer uma campanha de paz. “No Brasil, as grandes vitórias são construídas com o fermento da alegria e do otimismo.”, disse Dilma. Não deixemos o ódio prosperar em nossas almas”, disse.
Fonte: Carta Maior