Ricardo Kotscho: em que ponto nós falhamos?
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Recomendo ler o texto que reproduzo ao final, do Ricardo Kotscho.
Kotscho é um cara legal.
Mas vamos combinar: ao longo destes anos todos, houve um imenso debate dentro do PT e de toda a esquerda brasileira.
Opções foram feitas.
As vezes por todo mundo, as vezes pela maioria, as vezes por uma minoria sem consultar formalmente a maioria, caminhos foram escolhidos.
Consequências resultaram destas opções & caminhos.
Uma destas consequências é evidente no caso da juventude.
Houve vários alertas de que era preciso mudar a política da esquerda, dos movimentos, do PT e da JPT, dos governos, sob pena de vivermos o que estamos vivendo agora.
Novamente, houve debates, derrotados e vencedores.
Está tudo registrado.
Kotscho conta que tomou um choque cultural ao voltar à sua velha escola.
Ok.
Mas o que está acontecendo não é raio em céu azul.
O comportamento individualista presente em alguns setores da população (não só na juventude) tem relação direta e indireta com a opção majoritária entre nós, que foi a de mudar a vida do povo principalmente através da ampliação do consumo, com baixa politização e organização social, sem mexer no oligopólio da mídia e sem derrubar o controle mercantil sobre a educação e a cultura.
Kotscho diz: em algum ponto nós falhamos.
Claro que sim. Em vários pontos.
Mas o ponto principal é que tentamos melhorar a vida do povo através de um caminho que deixou intacto e, em alguns casos até mesmo mesmo reforçou, os instrumentos de poder do lado de lá.
Kotscho está certo quanto diz que “somos ao mesmo tempo vitoriosos e derrotados”.
Mas está errado quando diz que “fomos derrotados na construção do futuro”.
Fomos derrotados? Nós quem?
Quem acreditava que aquele caminho, aquela estratégia, daria no futuro pode se sentir derrotado.
Quem nunca acreditou nisto, quem sempre defendeu outra política, não tem motivo para se sentir derrotado.
Tem motivo, isto sim, para seguir lutando.
Um último comentário: Kotscho também está certo quando fala que chegamos “ao final de um ciclo político, com a falência do chamado presidencialismo de coalizão da Nova República”.
Doze anos de governo federal encabeçado pelo PT tiveram entre outros este saldo: conseguimos refazer parte do que o neoliberalismo tucano tinha desfeito. E com isto viemos parar perto do ponto de partida.
O ponto de partida foram os anos 1980. Década da fundação do PT e das eleições de 1989. Década de disputa de projetos, que foi se polarizando entre capitalismo neoliberalismo e socialismo democrático-popular.
Ou seja, de volta. Mas de volta ao futuro.
“Em algum ponto, nós falhamos. Não conseguimos repassar para as novas gerações valores como a solidariedade, a ousadia, o inconformismo, a capacidade de sonhar e mudar o estabelecido para a construção de uma sociedade mais generosa”, diz o jornalista Ricardo Kotscho; “Ganhamos nas lutas do passado, mas fomos derrotados na construção do futuro. Por isso, chegamos ao final de um ciclo político, com a falência do chamado presidencialismo de coalizão da Nova República, esta zorra federal instalada em Brasília e tão distante do Brasil real, colocando em xeque o futuro da própria democracia representativa pela qual tanto lutamos”
Fonte:
Valter Pomar Blog