São Paulo quer mais salas de aula e menos celas
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Nos últimos anos, o PSDB fechou cerca de três mil salas de aula em todo o Estado
Por Beth Sahão
Há tempos São Paulo abriga a maior população carcerária do país. Este é um fato de domínio público, assim como as mazelas deste falido sistema carcerário, que possibilitou o surgimento de uma facção criminosa, que atacou de maneira orquestrada a população, as forças de segurança pública do Estado e deixou toda a sociedade paulista refém da violência, em 2005.
Por outro lado, vimos também, ao longo dos anos, o fechamento de salas de aula na rede pública estadual, queda do desempenho dos alunos e frequentes greves dos professores, que denunciam falta de condições de trabalho, salas superlotadas e alunos desmotivados, muito por conta, do hiato existente entre os métodos e os recursos oferecidos pela escola e as novas linguagens e tecnologias disponíveis no cotidiano da juventude.
É em meio a esta realidade que a sociedade paulista tem se mobilizado para resistir ao ataque contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que está tramitando no Congresso Nacional, por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que prevê a redução da maioridade penal, para 16 anos.
Pautada pela defesa da criança e adolescente, coloco meu mandato como uma trincheira contra este retrocesso falacioso, que aponta para nossa juventude, como a responsável pelos altos índices de violência, numa cortina de fumaça que ofusca, o quanto é diminuta, a ação do governo de São Paulo, na prevenção e combate da violência e o quanto sua omissão é uma verdadeira ameaça ao futuro das crianças e adolescentes, das famílias menos favorecidas.
Esta ameaça é constante. De tempos em tempos há ensaios e tentativas de impingir aos mais jovens as causas da violência e elevação da marginalidade, principalmente por autoridades, como o governador Geraldo Alckmin, que não cumpre com sua obrigação, de acordo com o que está estipulado no ECA. Pelo contrário, nos últimos anos, o PSDB fechou cerca de três mil salas de aula em todo o Estado.
Desde 2013, acompanho e participo deste debate com a realização de audiências públicas, encontros, discussões e da intensa mobilização contra esta medida.
Aqui em São Paulo, não vamos permitir que o governador Alckmin atribua aos nossos jovens a responsabilidade por sua omissão com a educação, além da pouca disponibilidade e eficácia das políticas públicas, do seu governo, voltadas para crianças e adolescentes.
E agora é hora de a sociedade sair em defesa da nossa juventude, exigir a promoção de ações inclusivas e de oportunidades. É momento de ocuparmos praças, ruas, escolas, universidades e levarmos aos espaços públicos esta discussão. A reflexão é a nossa ferramenta libertadora, da sanha conservadora que está contaminando opinião pública.
A boa notícia é que há muitas pessoas envolvidas e com o compromisso de garantir um futuro para as nossas crianças e adolescentes. Dentre as autoridades de São Paulo, temos vozes destoantes do senso comum, como o advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos e direitos da criança e do adolescente; o desembargador Antonio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo e o promotor Paulo Afonso Garrido, corregedor-geral do Ministério Público Paulista, entre outros.
O nosso desafio é ampliar o debate acerca desta questão, numa análise franca aberta e direta, sobre o avanço da violência envolvendo crianças e adolescentes, visto que, nos últimos tempos, a discussão tem sido dominada, muitas vezes, por pontos de vista preconceituosos e superficiais.
Sr. Governador Geraldo Alckmin, São Paulo, não pode continuar fechando salas e abrindo celas.
*Beth Sahão é deputada estadual e líder da Minoria na Assembleia Legislativa de São Paulo
Fonte: Linha Direta