Eduardo Suplicy: A força da alma contra a intolerância
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Agradeço a todos que nos últimos dias expressaram solidariedade a mim diante daqueles que bradaram “Suplicy, vergonha do Brasil”
No dia 24 de outubro, no auditório Eva Herz, da Livraria Cultura, o prefeito Fernando Haddad deu uma entrevista de excelente nível para a Rádio CBN, na qual demonstrou conhecimento profundo da cidade de São Paulo e explicou suas diretrizes para diversos problemas. Os 168 assentos estavam ocupados. Muitos dos que estavam na fila não conseguiram lugar para sentar.
Antes do início da conversa, um grupo de umas 15 pessoas começou a falar alto, bradar críticas ao prefeito e levantar faixas. Foi necessária assertiva ação da moderadora Fabíola Cidral para que o grupo não inviabilizasse a entrevista.
Ela permitiu que eles fizessem indagações, como aconteceu com três deles, o que os deixou mais silenciosos. A grande maioria dos presentes apreciou e aplaudiu o prefeito.
Ao terminar a entrevista, aquele grupo resolveu estender faixas e se colocar em frente à saída do auditório para protestar. Após cumprimentar Haddad e os jornalistas, saí.
Ao deixar o auditório, um rapaz entrevistou-me sobre como será o financiamento de campanhas em 2016. Respondi que achava positivo o fim das contribuições de pessoas jurídicas e que era importante a transparência em tempo real pela internet de todas as contribuições, como fiz em minhas campanhas.
Foi então que aquele grupo começou a bradar: “Suplicy, vergonha do Brasil”. Tentei dialogar com eles, aproximei-me de uma das mulheres, propondo conversar, mas ela só gritou mais alto. Retirei-me.
Tenho a plena convicção de que sempre procurei exercer os meus mandatos (como vereador, deputado estadual, deputado federal, senador) da melhor maneira possível.
Como um dos fundadores do PT, defendi a liberdade de expressão, o aperfeiçoamento da democracia, a transparência, a busca de Justiça.
Quando se está numa grande organização como o PT, com mais de 1,5 milhão de afiliados, é nosso dever procurar corrigir e prevenir os erros, se alguém comete uma falha grave, e agir com toda a correção.
É o que tenho feito desde que fui convidado pelo prefeito Haddad para ser secretário de Direitos Humanos e Cidadania em São Paulo. Nos oito anos em que o “Congresso em Foco” elegeu os melhores deputados federais e senadores, de 2006 a 2014, fui escolhido todas as vezes.
Dentre minhas inúmeras iniciativas, a de maior relevância foi a aprovação da lei nº 10.835/2004, que diz que será instituída por etapas a Renda Básica de Cidadania, iniciando-se pelos mais necessitados, como o faz o Bolsa Família, até que todos tenhamos o direito.
Em função de meu empenho para que o Brasil e outros países do mundo implantem a Renda Básica de Cidadania, sou copresidente de honra da Basic Income Earth Network (Bien) desde 2008. Em fevereiro, na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, me será outorgado o título de doutor honoris causa.
Agradeço a todas as pessoas que nos últimos dias expressaram solidariedade a mim depois daquele encontro com pessoas que se mostraram tão intolerantes. Sugeri à Livraria Cultura e à CBN que promovam no mesmo auditório um debate sobre democracia e direitos humanos. Será uma boa ocasião para ressaltarmos o quão importante é o diálogo civilizado e respeitoso.
(Artigo inicialmente publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, no dia 6 de novembro de 2015)
Eduardo Suplicy é secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Foi senador pelo PT-SP (1991-2014)