#Entrevista – Carina Vitral: “Nenhum governo progressista teve coragem de fechar escola”
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Presidenta da UNE afirma que Frente Brasil Popular vai às ruas na sexta-feira (13) pelo “Fora, Cunha”, entre outras bandeiras, e que a perspectiva do movimento estudantil é “derrotar o projeto” de Alckmin
Fonte: Rede Brasil Atual| Por Eduardo Maretti
A União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e inúmeras entidades do movimento social brasileiro e entidades integrantes da Frente Brasil Popular vão às ruas de Brasília amanhã (13) para protestar contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por mais direitos e por uma nova política econômica. A defesa da Petrobras também é uma das bandeiras da manifestação.
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, em entrevista à RBA, diz que essas são “as plataformas dos movimentos sociais para enfrentar a crise, e que falam da conjuntura atual”.
Na entrevista, a ativista fala do “absurdo” da política para a educação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com o fechamento das 94 escolas, número considerado oficial no momento. Porém, Carina diz que as manifestações da sociedade já surtiram efeito. “O governo já voltou atrás e modificou (a reorganização). Desde a luta dos estudantes, dos professores, pais e mães, a gente já teve avanço, e acho que essa é a nossa perspectiva, de derrotar esse projeto.”
Antes de chegar ao número de 94 escolas, o governo paulista pretendia fechar centenas de escolas.
Nascida em Santos e aluna de Economia da PUC-SP, a ex presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) Carinal Vitral foi eleita presidenta da UNE no 54° congresso da entidade, realizado no início de junho em Goiânia.
Amanhã (13), haverá um ato com a participação da UNE, pelo “Fora, Cunha”, por mais direitos, em defesa da Petrobras e por uma nova política econômica. As bandeiras são essas?
Isso, essas são as pautas de uma manifestação puxada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. A Frente Brasil Popular aderiu a essa pauta, que tem esses quatro eixos como fundamentais. São as plataformas dos movimentos sociais para enfrentar a crise, que falam da conjuntura atual.
Qual sua opinião sobre essa crise na educação de São Paulo, o governador Alckmin fechando escolas etc?
É um absurdo. Isso distingue bastante a diferença dos governos diante da crise. Porque os movimentos sociais lutam contra todo tipo de ajuste fiscal, contra todo tipo de corte de verbas, contra todo o tipo de corte de programas sociais, mas fechar escola nenhum governo progressista teve coragem de fazer, como fechar universidade. Eu acho que é uma coisa muito problemática que mostra o jeito tucano de governar, que é efetivamente retroceder nos direitos fundamentais.
Apesar de muitos protestos, manifestações, estudantes tentando tomar escolas, o governador parece irredutível. Esses protestos vão resultar em efeitos concretos?
Eu acho que a luta do movimento social pode, sim, surtir efeito. Inclusive, já existem efeitos. Na primeira proposta do governo sobre as escolas, o governo já voltou atrás e modificou (o projeto de “reorganização” do sistema). Desde então, desde a luta dos estudantes, dos professores, pais e mães, a gente já teve avanço, e essa é a nossa perspectiva, de derrotar esse projeto.
O governador fez outra proposta, de menos escolas que serão mexidas. Poucas coisas efetivamente mudaram, mas o fato é que ele está sentindo o baque das manifestações, tanto é que na semana que vem ele vai anunciar quais escolas que vão mudar.
Qual sua expectativa para o ano que vem, já que estamos em um momento de crise no país?
Acho que a crise é passageira, e o mais importante é que a gente consiga sair dela com um rumo, com uma perspectiva de mais mudanças para o povo. Quando um projeto político volta ao poder, reeleito pelo voto popular, é porque o povo lhe creditou mais alguns anos para continuar mudando a vida do povo. Eu tenho certeza que essa nova perspectiva será construída pelas mãos dos movimentos sociais, por mais diálogo, e só assim a gente vai conquistar mais mudanças.
Como você avalia a gestão da educação pelo governo Dilma?
A gente viveu um período na universidade bastante frutífero nos últimos dez anos, quando várias universidades foram criadas, modelos pedagógicos inovadores. Depois de quatro anos da Lei de Cotas, e mais quase 10 anos das políticas de cotas das universidades, a gente atinge quase 50% das universidades federais com alunos cotistas. Então, é uma mudança, o Enem substituindo o vestibular, ele também se consolida como uma alternativa de avaliação de ensino médio e entrada na universidade. Uma série de mudanças significativas, porém iniciais, aconteceram nos últimos anos.
O que a gente discute agora na universidade é como conseguir mexer nas estruturas da universidade, para conseguir mudar a qualidade de educação superior.
Mas não falta um Plano Nacional de Educação Nacional que mexa na estrutura da educação brasileira como um todo?
O Plano Nacional de Educação que a gente aprovou em 2014 é um marco importante. Esse deve ser o guia pra educação no próximo período. Lá existem metas claras de qualidade na educação básica, de erradicação do analfabetismo, de ampliação dos recursos em educação, ampliação das vagas das universidades. A maior luta do movimento educacional é a implementação do PNE.
Depois de dez anos de luta, a gente conquistou o Plano Nacional de Educação, que está em vigência de 2014 a 2024, que aprovou os 10% do PIB pra educação, as metas de erradicação do analfabetismo. É um plano ousado que tem a marca dos movimentos sociais.
Não falta uma reforma estrutural na educação do Brasil, já que o governo federal, nos últimos 12 anos, investiu bastante na educação universitária, mas a básica e a de ensino médio estão muito precárias?
Concordo. Mas o PNE, conquistado depois de consulta à sociedade civil, através das conferências, é um marco histórico exatamente em relação à educação básica. De 20 metas, 17 falam de educação básica, por isso a importância de ele ser implementado. Acho que o PNE é um marco, tanto pra sociedade civil, quanto pro governo. Agora, a gente precisa que tire do papel, porque muito dessas reformas estruturais que a gente não fez no último período estão nesse plano nacional, que é para dez anos. Tem que vencer o lobby de muita gente, vai ter que lutar muito para implementar, mas vai ser uma evolução importante, principalmente na educação básica.
Atualmente existe uma discussão sobre a necessidade de união da esquerda no Brasil, principalmente pelo crescimento das forças conservadoras. Existe unidade na esquerda?
Acho que as diferentes frentes de mobilização e de unidade dos movimentos sociais contribuem para uma reaglutinação das forças progressistas. É natural que, depois do fechamento de um ciclo político que teve as suas vitórias e conquistas, mas também seus limites, as forças políticas no país, em especial as de esquerda, tendem a uma reaglutinação, fruto de uma avaliação do último período e de uma avaliação conjuntural diante da crise.
O principal não é saber se existe a unidade necessária no dia de hoje, mas quais são os caminhos para que a esquerda, os movimentos sociais, os partidos políticos progressistas, a intelectualidade estão trilhando para que haja uma unidade entre a esquerda.
Existem diferenças fundamentais entre a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular?
Não, são duas frentes importantes de mobilização do povo brasileiro, que aglutinam movimentos sociais igualmente importantes, e por esse motivo, por entender que as duas frentes são igualmente importantes, a UNE participa das duas frentes.
Essas duas frentes são unidas ou há divergências?
Essas duas frentes podem construir alternativas de luta nas ruas. É muito simbólico, e a maior mobilização da esquerda no último período aconteceu quando essas duas frentes se aglutinaram para dizer “não ao golpismo”. As duas frentes têm iniciativas diferentes, mas na opinião da UNE devem caminhar para, nas ruas, se encontrarem.