SOLTA A VOZ: FERNANDO NOE

PT Santo André
Por PT Santo André junho 1, 2020 14:04

SOLTA A VOZ: FERNANDO NOE

O futebol é o esporte mais popular do nosso país, desde os grandes clubes até times de várzea que carregam as mensagens e os rostos das quebradas que representam nos campos distritais. Popularidade do futebol tornou a Democracia Corinthiana um dos movimentos importantes para a democratização do país; liderado por Dr. Sócrates, que já teve filiação ao Partido dos Trabalhadores; além de Casagrande e Wladimir, deram o tom dentro das quatro linhas, com um futebol que encantou os brasileiros, mas era fora dos gramados o que deixou o maior legado daquele time. Os jogadores, comissão técnica, trabalhadores em geral do clube tinham direito a voto igualitário ao dos dirigentes do clube e decidiam desde a contratação de atletas até os direitos e deveres dos atletas fora da concentração, o que daria liberdade aos atletas se posicionarem politicamente o que preocupou os ditadores que pediam moderação aos dirigentes do clube. Essa história é muito bem escrita por Tom Cardoso na biografia de Sócrates.

Com o distanciamento da realidade da classe trabalhadora, os jogadores perderam a identidade com as pautas e a luta de seu povo. Olhando o cenário dos atletas de futebol no Brasil, mais de 90% ganham baixos salários e não vivem o glamour das disputas dos Campeonatos Brasileiros em suas divisões. Ao olhar a vida dos jogadores, cheio de requinte e regada a grandes festas, torna-se visível que estaremos longe de vivenciar novos movimentos como a Democracia Corinthiana. Raí, ex-meio campo e idolo do Tricolor Paulista, se posicionou sobre a volta dos campeonatos de futebol e pediu publicamente a renúncia do desastroso e fascista Presidente da República, Jair Bolsonaro. O agora dirigente do clube que o formou, foi reprimido por conselheiros tricolores que defendem o atual governo, mas Raí tem o mesmo sangue que correu nos punhos levantados de seu irmão Sócrates e não tem abaixado a cabeça, assim como seu companheiro Lugano.

Com a falta de movimentos liderados pro jogadores, quem assumiu esse papel foram as arquibancadas. As torcidas organizadas são um dos maiores movimentos sociais no Brasil, ficando atrás dos Sindicatos e Movimentos de Moradia. Longe de ser hipócrita, pois vivi 15 anos esse movimento, sendo 10 anos presidindo a Torcida Esquadrão Andreense. É verdade que muitos manos que frequentam as organizadas buscam nesse movimento a oportunidade de vandalizar, sair “nas tretas” e fumar seu baseado; mas isso não significa que seus integrantes não tenham a consciência de classe. Maioria dos integrantes são jovens e das quebradas, além de passar veneno onde mora, também encontram isso nas arquibancadas, pois a PM tem alvo certo!

Os atos das torcidas declaradas antifascistas na Av. Paulista, além das que aconteceram no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, recolocam as torcidas como um dos principais agentes na luta por um estado democrático e de direitos, enfrentando o fascismo da melhor maneira: nas ruas, dando cara a tapa! Mas essa não é a primeira vez que as torcidas fazem esses movimentos pra bater de frente com o sistema. Em 2013, a Federação Paulista de Futebol, junto ao Ministério Público, em reunião fechada intimidaram as torcidas assinarem um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para legalizarem as entidades e cadastrarem todos seus integrantes junto a FPF, o que ia na contra-mão do estatuto do torcedor e no direito de ir e vir nos estádios. Única torcida a não assinar o TAC, a Esquadrão Andreense viveu na ilegalidade e levantando as bandeiras da igualdade de gênero no futebol e nas arquibancadas; contra o racismo, pela descriminalização da maconha e atua no Conselho de Juventude de Santo André desde 2013. Mas as torcidas sentiram o efeito daquele TAC em 2016, quando a torcida Corinthiana sofreu diversas repressões, o que levou os torcedores alvinegros levantarem as bandeiras contra Fernando Capez, pelo roubo da verba de merendas escolares no estado; contra a Rede Globo e a FPF. Esse movimento somou outras tantas torcidas do Estado de São Paulo, pressionando a Assembléia Legislativa e fazendo a federação voltar atrás do TAC assinado em 2013. Em 2018, várias torcidas assinaram um manifesto contra o fascismo e aderiram a campanha de Fernando Haddad contra o de Bolsonaro.

As arquibancadas respiram democracia e luta, não é de hoje!

Fernando Noé é geógrafo e Secretário de Comunicação do PT Santo André.

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Por PT Santo André junho 1, 2020 14:04