“LAS MARIPOSAS” MANTÉM FORTEMENTE SEUS BRAÇOS LEVANTADOS

PT Santo André
Por PT Santo André novembro 26, 2020 12:08

“LAS MARIPOSAS” MANTÉM FORTEMENTE SEUS BRAÇOS LEVANTADOS

“Las Mariposas” mantém fortemente seus braços levantados

 

“Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”. Foi com essa frase que, no início da década de 60, Minerva Mirabal deu como resposta aos que avisaram sobre a intenção do presidente e ditador Rafael Leónidas Trujillo (1930-1961) de matá-la.

O aviso se tornou real em 25 de Novembro de 1960, em que o assassinato das três irmãs foi consolidado – Patria, Minerva e Maria Teresa, ou simplemente “Las Mariposas”, foram cruelmente assassinadas pelo tirano da República Dominicana, que utilizava da prática da tortura e dos execuções seletivas como um meio de exterminar quem se colocasse em seu caminho.

O ditador Trujillo designou o assassinato das irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal e estabeleceu um plano cruel para eliminá-las em uma emboscada: seus maridos fossem transferidos de Santo Domingo para a prisão de Puerto Plata. Entretanto, a distância de onde viviam as famílias era de duas horas de viagem e, em uma das idas para a visita, as irmãs foram detidas, torturadas e assassinadas com o motorista, Rufino de La Cruz. Com os ossos quebrados, seus corpos foram colocados de volta ao carro e lançados num precipício, a fim de simular um acidente. As mortes repercutiram, causando grande comoção no país e, pouco tempo depois, o ditador foi assassinado.

A valentia de Minerva, Patria e María Teresa se fez sentir a cada 25 de novembro. Finalmente, em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas estabeleceu a data como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em memória de “Las Mariposas”.

Desde então, quantas outras mulheres foram assassinadas? Na época conhecida como os anos de chumbos no Brasil, centenas de mulheres foram mortas, e muitas tornaram-se as nossas sementes, como Alceri Maria Gomes da Silva, Ana Kucinski, Ana Maria Nacinovic Correa, Anatália de Souza Melo Alves, Aurora Maria Nascimento Furtado, Carmem Jacomini, Catarina Helena Abi-Eçab, Gastone Lúcia Carvalho Beltrão, Heleny Ferreira Telles Guariba, Iara Iavelberg, Margarida Maria Alves,  Zuzu Angel, conforme consta na lista da Comissão Nacional da Verdade.

É importante ressaltar que, nesse mesmo período, as trabalhadoras do sexo também não estavam a salvo da mão pesada do Estado, e tornaram-se alvo das arbitrariedades por parte do aparato repressivo, tendo relatos de serem sequestradas e torturadas.

No Brasil atual, as mulheres são alvos fáceis de homens que se consideram no direito de violentar e de matar, o que é possível analisar a partir dos dados do Atlas da Violência 2020 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Assim, constata-se que uma mulher é assassinada a cada duas horas, e só em 2018 foram 4.519 vítimas, sendo que 68% delas eram negras. A violência contra as mulheres negras aumentou no período de 10 anos, compreendido entre 2008 e 2018, em que os homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%, sendo que o de não negras reduziram 11,7%. Além disso, em média, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada em nosso país e, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados durante a próxima década (UNICEF).

A herança patriarcal é um fator que ainda trata o homem como detentor do direito aos “crimes de honra”, onde mulheres são assassinadas a mando da própria família, por alguma suspeita ou caso de “transgressão sexual” ou comportamental, como adultério, recusa de submissão a casamentos forçados, relações sexuais ou gravidez fora do casamento mesmo se a mulher tiver sido estuprada. O crime é praticado para não “manchar o nome da família” e, segundo a ONU, 5 mil mulheres são mortas por crimes de honra no mundo, sendo que 70% de todas as mulheres no mundo estão em risco de sofrerem algum tipo de violência em algum momento de suas vidas — independente de nacionalidade, cultura, religião ou condição social.

Nesse sentido, o dia 25 de novembro não é apenas sobre a mutilação da mulher, nem apenas sobre o assédio ou algum tipo de humilhação velada, nem por ser uma mulher com algum tipo de deficiência, ou por classe social, ou por sua raça/etnia, ou por sua orientação sexual, em que aqui se suportam duplamente a violência e a rejeição.

O dia 25 de Novembro deve ser a data da causa feminista e da defesa dos Direitos Humanos de todas as mulheres. Ser feminista é ser da luta e da labuta pelo fim da violência contra qualquer mulher na prática cotidiana interseccional. Por isso, neste dia tão importante, vamos repetir em sororidade: “Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”.

 

Sol Massari – Assistente Social, Ativista dos Direitos Humanos e da Defesa da Mulher.

 

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Por PT Santo André novembro 26, 2020 12:08