A reforma trabalhista, a ração humana e a escravidão: a direita brasileira nos roubou a civilização
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Por Carlos Fernandes, do Diário do Centro do Mundo
Para além do descumprimento à Constituição Federal, da desobediência às normas democráticas, da falência institucional e da desmoralização internacional, o golpe parlamentar que reconduziu a direita ao poder nacional no Brasil vem subjugando a própria condição humana da grande massa de pobres e excluídos dessa nação.
A reforma trabalhista que implodiu a Consolidação das Leis Trabalhistas e dizimou os direitos constitucionalmente garantidos dos trabalhadores foi a primeira grande investida do establishment contra o centro e a base de nossa pirâmide social.
Ainda que todas as classes de trabalhadores tenham sido diretamente prejudicadas com as novas regras que entram em vigor já em novembro, é desnecessário comentar que num país com o indecente nível de desigualdade socioeconômico como o Brasil, são justamente os assalariados – e os que recebem abaixo do salário-mínimo – os que mais violentamente sofrerão.
A reboque do que a atual política econômica vem causando na configuração social do país, a mesma direita federal, em escala municipal, já apresenta as suas “soluções” para os milhões que voltam a ocupar as faixas da pobreza e da extrema pobreza no Brasil.
O advento da “ração humana” adotado pelo governo de João Dória Jr. como alimento para quem passa fome, não é só imoral, é desumano. Tratar pobres como animais é fruto de uma insensibilidade social típica de quem jamais compartilhou com ideais humanitários internacionalmente consagrados.
E como dignidade humana é algo alheio aos interesses de nossa plutocracia, é nessa esteira que o governo de Michel Temer editou a portaria que traz regras que não só dificultam o combate ao trabalho escravo, mas praticamente o autorizam devido a proteção que dá a empresas que praticam esse tipo inominável de crime.
Na opinião de Luiz Eduardo Bojart, procurador-geral em exercício do MPT, a medida é uma “monstruosidade”. Nas palavras dele:
O simples “argumento” de que a “portaria da escravidão” seria um afago à desavergonhada bancada ruralista em troca de votos para a sua sobrevivência no poder, não é suficiente para explicar todo o contexto em que essas medidas se dão.
Ainda que sim, trocar vidas por votos seja uma prática considerada aceitável por esse governo, não o fazem pura e simplesmente por instinto de sobrevivência.
A burguesia sempre considerou os indivíduos das classes menos abastardas como meras peças de serviço e reposição que podem ser substituídas a qualquer momento.
Não é com surpresa que ricos e latifundiários como Flávio Rocha, dono da Riachuelo, e Blairo Maggi, megafazendeiro e atual ministro da agricultura, consideraram a medida “ótima”.
Seguimos desenfreados para o nazismo do século XXI.
O surto nazifascista desencadeado na sociedade brasileira a partir da ascensão de criminosos aos mais altos cargos da República, reverbera nas práticas mais hediondas contra a democracia, o conhecimento, a educação, as artes e as liberdades individuais.
Como se vê, a volta da direita ao poder não apenas nos colocou à beira do abismo social, econômico e político. A volta da direita ao poder fez desenterrar, ou o que é pior, amplificar os mais primitivos ideários que serviram de suporte para o mais trágico evento da história da humanidade.