Dilma no Rio: “Golpe explica por que temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite”

PT Santo André
Por PT Santo André setembro 1, 2017 15:03

Dilma no Rio: “Golpe explica por que temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite”

Em ato realizado no Rio de Janeiro, ex-presidenta faz longo discurso em que analisa o impeachment, o papel do Judiciário no processo, e diz que país vive calmaria antes do tsunami”

São Paulo – Dilma Rousseff foi a convidada de honra do evento “Brasil um ano depois do golpe”, realizado na noite desta quinta-feira (31) na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio. Organizado pelo deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) e pelo jornal Brasil de Fato, o ato lembrou a consumação do impeachment, no dia 31 de agosto de 2016, quando o Senado afastou definitivamente a ex-presidenta do cargo, por 61 votos a 20. Michel Temer havia assumido o governo no dia 12 de maio, após a abertura de processo naquela Casa do Congresso Nacional.

Por uma hora e 20 minutos, Dilma discorreu sobre vários aspectos do golpe parlamentar que derrubou seu governo. Um deles, a elite que patrocinou a derrubada de seu governo. “Esse processo explica por que temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite.” As elites de outros países, disse, “pensaram em sua nação, perceberam que seu destino seria maior se elas incorporassem o destino de seu povo. No nosso caso, tivemos sempre uma imensa dificuldade de fazer os processos mais simples de inclusão”.

Ela comentou a chamada PEC do teto de gastos como emblemática das intenções da elite que assaltou o poder: “Colocaram isso por 20 anos. Por cinco eleições presidenciais, tiraram os pobres do Orçamento”.  Ela avaliou a conjuntura e afirmou que, por um lado, “eles enfrentam seríssimas dificuldades”, mas, de outro, o golpe se desenvolve em vários “atos” e segue em curso.

Segundo avaliação de Dilma, embora haja uma aparente divisão entre lideranças que compartilham os espólios do poder após o impeachment, esses protagonistas do golpe estão unidos pelos interesses que o motivaram. “Não é um golpe de um ato só”, disse. “Tem uma cisão (entre os golpistas), mas tem também uma unidade entre eles: unidade pela reforma da Previdência, pela reforma trabalhista, pela entrega das terra férteis, pela entrega da Petrobras.”

Para ela, apesar disso, esse grupo está “absolutamente desmoralizado” e Michel Temer enfrenta problemas crescentes: “Eles têm de entregar o que prometeram entregar (com o impeachment). Mas não tem como, porque o déficit já chegou a 183 bilhões (de reais). Vão fazer o quê? Vão aumentar imposto? É complicado. Tem o problema de legitimação perante o mercado, e em 2018, de legitimidade diante da população.” Na terça-feira (29), foi divulgado que o país acumula déficit fiscal de R$ 183,7 bilhões em 12 meses, o que supera em muito a meta que já tinha sido revisada pelo governo Temer e era de R$ 159 bilhões.

Outra dificuldade para Temer e o governo, segundo Dilma, é que junto com os problemas econômicos, os deputados e senadores do atual Congresso, que votaram pelo impeachment e pelas reformas do governo atual, “têm uma série de defeitos, mas não são suicidas”, lembrando que os parlamentares terão de se submeter mais uma vez ao voto popular, no ano que vem. A não ser que haja um plano de evitar que as eleições sejam realizadas ou fazer com que não tenham a importância que delas se espera, sugeriu.

“O segundo ato do golpe (2018) é complexo”, disse. Segundo ela, os grupos que controlam o governo e o Congresso tentam algumas estratégias para se manter no poder, como implantar o parlamentarismo, que “retira as possibilidades mais progressistas do páreo” e é uma das hipóteses. “Mas (para se implantar o regime) precisa de plebiscito”, lembrou.

Alguns defensores do parlamentarismo, como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), advogam a tese de que não é necessária a consulta popular, mas apenas uma proposta de emenda à Constituição para aprovar o parlamentarismo. “Pode até ter a suspensão da eleição nesse segundo ato. O fato é que o Brasil está em grave crise econômica, política e institucional. Tenho a impressão que estamos na calmaria (antes) do tsunami.”

Dilma citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que ouviu dele a frase mais bonita dos últimos tempos: “solto ou preso, condenado ou absolvido, vivo ou morto, eu participo de 2018”. Para ela, com a frase, Lula mostra compreensão sobre o que representa 2018: “se o golpe se reproduz ou se se contém”. Ela interpreta a “caminhada (de Lula) pelo nordeste” como uma indicação de que “o que está em questão é o que vem depois, o que faremos ou construiremos depois”.

A ex-presidente afirmou como “duas obras-primas do golpe o surgimento da extrema direita, produto direto do golpe, e a destruição da centro-direita, a destruição do PSDB”.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) pregou união para enfrentar os desdobramentos da grave crise. “Precisamos unir forças pelo que a gente acredita de fato. O golpe continua, nunca vi agenda tão veloz. Se não bastasse, querem entregar a Amazônia da forma mais descarada. Nem a ditadura rasgou a CLT como eles fizeram. São retrocessos civilizatórios”, disse Jandira.

“Em um ano esse golpe está desmoralizado. Quem são os capitães do golpe? Aécio Neves está desmoralizado, Eduardo Cunha na cadeia”, afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Judiciário

Tanto Dilma quanto Wadih Damous mencionaram a participação do Judiciário na história política recente do país. “Um dos principais atores desse golpe, senão o principal, foi o sistema de justiça brasileiro”, disse Damous. “Me dirijo à presidenta constitucional desse país e me dirijo à organização criminosa que tomou o Palácio do Planalto”, frisou.

Segundo Damous, com a mesma rapidez com que o processo da Lava Jato contra Lula chegou da instância de Curitiba ao TRF (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), “a quadrilha está destruindo o país”. “Se o povo não se fizer presente, não sei o que será deste país. Não se pode aceitar passivamente que o recurso de Lula passe na frente de todos os outros e (Lula) possivelmente seja tirado do jogo (eleitoral).”

Por sua vez, Dilma fez referência à política de dois pesos, duas medidas do Supremo Tribunal Federal. Em março de 2016, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. Em fevereiro de 2017, o ministro Celso de Mello, do mesmo STF, manteve a nomeação do ministro Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência da República.

“Gravaram a presidente da República, sem autorização do STF. Tinham autorização para gravar o ex-presidente até 11h, gravaram às 13h45. Não tinham autorização para divulgar a conversa e divulgaram. Criaram a maior confusão e impediram que Lula fosse ser ministro. Pós-golpe, a mesma coisa, alegada a outra pessoa (Moreira Franco), permitiram que fosse nomeado. E está nomeado até agora”, disse ela.

Dilma falou  do processo do “mensalão”, para dizer: “Em 2006, acharam que tinham descoberto a rota para encurtar a ‘aventura’ dos petistas. Em 2006 o povo barrou (reelegendo Lula). Pessoas foram condenadas pela teoria do domínio do fato. Chegaram à conclusão que tinha que deixar Lula sangrar e ele perderia a eleição.”

No mesmo ano, lembrou, o pré-sal foi descoberto, fato que, segundo Dilma, explica que a visão de Estado dos governos petistas é simbolizada pelas políticas desenvolvidas pela Petrobras. “Ninguém descobre o pré-sal fazendo políticas de contenção. Tem que correr o risco. Petróleo leva anos para surgir e ser possível explorar.”

Fonte: Rede Brasil Atual

Foto: Mídia Ninja

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Por PT Santo André setembro 1, 2017 15:03