Lula 70 Anos: popularidade resiste à guerra suja da mídia
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Hoje, 365 dias após a reeleição de Dilma Rousseff, e 364 do início da campanha de desprestígio contra ela e contra Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente brasileiro completa seus 70 anos de vida, com uma porcentagem de eleitores fiéis que é mais alta que a de todos os políticos brasileiros.
No primeiro aniversário do triunfo de Dilma sobre seu rival Aécio Neves, o jornal Estado de São Paulo publicou ontem que Lula conta com 23% de eleitores incondicionais, cifra que aumenta a 41% se incluem os eleitores potenciais.
“Essa pesquisa inédita do Ibope demonstra que o fantasma de um terceiro mandato de Lula, a partir de 2018, continua ameaçando a oposição” afirma o jornal, corroborando a ineficácia, até agora, da intensa guerra informativa contra o líder do PT, homem influente no atual governo.
O artigo propõe que, por enquanto, o mais realista para acabar com Lula, Dilma e o PT é vencê-los dentro de três anos, nas eleições presidenciais, deixando de lado a aventura do golpe a curto prazo, encabeçada por Aécio Neves e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – o evangélico que predica contra a corrução, mas que lavou dinheiro desviado da Petrobras em contas secretas descobertas na Suíça.
O clímax dessa corrida pelo golpe aconteceu há duas semanas, no dia 13 de outubro, quando Aécio Neves e Eduardo Cunha estiveram a ponto de abrir o processo de impeachment no Congresso, mas foram impedidos por uma medida cautelar do Supremo Tribunal Federal.
Se tivesse dado certo, essa manobra daria início à deposição da presidenta, e uma eventual convocação de novas eleições, nas quais Aécio Neves considera que poderá vencer com tranquilidade. Mas os números do Ibope dizem outra coisa. Lula, apesar de ter perdido 10 pontos de aprovação e ter uma rejeição de 55%, é o candidato favorito, já que conta com 8% a mais de eleitores fiéis do que Aécio, e 16% a mais que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, outro político com aspirações presidenciais.
A taxa de rejeição de Lula é fruto das campanhas negativas, midiática e judicial, das quais ele é alvo permanente, sem ter direito de resposta, já que há meses ele não é entrevistado por nenhum meio de comunicação de alcance nacional. As reportagens sobre ele saem em meios regionais, e quando são repercutidas pelos grandes grupos, aparecem tergiversadas, assim como alguns de seus discursos em sindicatos e encontros com movimentos sociais – como o realizado no fim de semana, com o MST.
“O dado concreto é que estamos vivendo quase num estado de exceção. Não se pode continuar com essa coisa de que as pessoas são condenadas sem serem julgadas. Quem condena não é o juiz, é a capa do jornal, o que alimenta um clima de suspeita generalizada. Me irrita ver os corruptos históricos falando de corrupção”, disse Lula, na sexta-feira, durante uma viagem pelo Nordeste. No sábado, ele confessou estar “irritado” com as acusações lançadas contra seus familiares.
Ontem, a Polícia Federal invadiu o escritório de seu filho, Luiz Cláudio Lula da Silva, em diligência relacionada à Operação Zelotes contra uma rede de empresários e lobistas. Cristiano Zanin Martins, advogado do filho de Lula, qualificou a ação como “desproporcional”, e afirmou que existe a intenção de forçar a criação de vínculos inexistentes do seu cliente com a Operação Zelotes.
Também sobre a Zelotes, o ex-ministro e dirigente petista Gilberto Carvalho disse, em declarações publicadas ontem, que os lobistas habitualmente são “malandros” e afirmam manter relações com o governo que são falsas ou exageradas, para obter benefícios. E que essas falácias não podem ser tomadas como provas para acusar ninguém. Carvalho, que integrou o gabinete presidencial entre 2003 e 2014, repudiou o abuso das chamadas “delações premiadas”, utilizadas por juízes e especialmente advogados, para forçar provas que envolvam Lula.
Democracia adolescente
Desde que a Justiça Eleitoral confirmou o triunfo de Dilma, com mais de 54 milhões de votos no segundo turno, no dia 26 de outubro, Aécio Neves, o candidato derrotado, começou uma guerra política que prolonga até hoje, buscando inviabilizar seu segundo governo, o quarto do PT. O primeiro ataque partiu do mercado financeiro, às 10h30 da segunda-feira posterior à votação, dia 27 de outubro, que forçou uma queda de 6% na abertura da Bolsa de Valores de São Paulo – as ações da Petrobras chegaram a cair mais de 10% – devido à contrariedade com a opção da maioria dos eleitores.
O poder financeiro exigia a nomeação de um banqueiro ou de alguém do seu mundo no Ministério da Fazenda, além do fim da política desenvolvimentista aplicada por Dilma durante o seu primeiro mandato.
Semanas depois Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), iniciava sua própria manobra golpista, afirmando que a eleição de Dilma foi resultado de uma “associação ilícita”. Simultaneamente, e outra vez sem provas, denunciava a presidenta por fraude eleitoral, e solicitava uma investigação da Justiça. O próprio PSDB reconheceu há duas semanas que não houve fraude nas eleições.
Essa extensa lista de denúncias sem fundamento, surgidas de operações midiáticas, depois de um tempo não são desmentidas. No domingo, na véspera do primeiro ano de sua reeleição, Dilma disse à CNN que o ódio semeado pela oposição, no afã de derrubá-la como um “golpe paraguaio”, é um tema que a preocupa. “Temos que ter muito cuidado com isso (o impeachment), porque eu diria que a nossa democracia ainda é adolescente”.
Fonte: Carta Capital| Por Darío Pignotti, de Brasília